Já passaram 7 anos desde que 196 países em todo o mundo assinaram o Acordo de Paris e continuamos com a ambição de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC. Mas quão perto estamos de atingir esse objetivo? E qual é o papel da agricultura, florestas e atividades relacionadas (AFOLU, do inglês “Agriculture, Forestry and Other Land Uses”) no âmbito desta missão?
O setor AFOLU é uma fonte de alimentos, combustíveis, têxteis, rações e materiais de construção - todos necessários para a subsistência e bem-estar humano - ao mesmo tempo que atua como base para a conservação da biodiversidade e mitigação das alterações climáticas.
Dado que este é o segundo setor com mais emissões de GEE, com 13% a 21% da quantidade total (apenas ultrapassado pelo setor energético), é onde se encontram algumas das oportunidades mais impactantes e é também o único setor que atualmente permite sumidouros antropogénicos de carbono. Entidades como a Food4Sustainability aceleram a implementação de tais ações através de testes, investimento e esforços de capacitação.
Estima-se que o potencial do setor AFOLU varia entre 20% a 30% da mitigação necessária a nível global, com soluções a curto prazo já disponíveis a um custo relativamente baixo. No entanto, o trâmite para esses resultados depende muito da região, mais especificamente, dos diferentes contextos naturais e socioeconómicos.
Por exemplo, as regiões tropicais devem concentrar-se principalmente na preservação dos ecossistemas naturais, enquanto os países desenvolvidos, a Ásia e o Pacífico em desenvolvimento beneficiarão mais do sequestro de carbono em terrenos agrícolas e medidas relacionadas com o comportamento do consumidor.
A taxa de desflorestação (responsável por ~45% das emissões de GEE da AFOLU) tem vindo a diminuir ligeiramente, com a cobertura arbórea geral a aumentar. Por outro lado, as concentrações e emissões, de CH4 e N2O continuam a aumentar, principalmente devido à criação intensiva de animais ruminantes (bovinos, ovinos, caprinos) e utilização de fertilizantes agrícolas, respetivamente. A agricultura é, portanto, o segundo maior potencial de mitigação dentro deste setor e as soluções mais relevantes vão desde a gestão de carbono no solo e implementação da agrofloresta até à gestão pecuária e uso de biochar.
O Food4Sustainability tornou-se um ator importante nesta transição, trabalhando para uma intensificação sustentável dos sistemas de alimentação humana e animal e consequente conservação dos cursos de água. Isto não é possível sem o desenvolvimento das ferramentas de medição adequadas, por exemplo, a avaliação microbiológica do solo, que permite uma compreensão profunda e em tempo real das condições do solo e das relações entre os diferentes organismos que conduzem a tais condições.
A bioenergia e atividades relacionadas também oferecem um grande potencial de mitigação, especialmente considerando que a inerente substituição de fontes não renováveis ajudará a descarbonizar outros setores, amplificando o impacto destas ações. Atualmente, as melhores opções para alcançar esse objetivo são a implantação de culturas energéticas, a agrofloresta e a florestação/reflorestação.
Contudo, a implementação deficiente de culturas energéticas pode levar a perdas de carbono no solo e a uma procura excessiva de biomassa, dificultando outros esforços de mitigação, tais como a redução da desflorestação e degradação dos recursos florestais. Mais uma vez, são solicitados métodos de avaliação, para avaliar em tempo real a degradação da qualidade do solo e do ar (mesmo que a área coberta permaneça estável).
Especialmente para os países desenvolvidos, as medidas focadas no consumidor têm vindo a ganhar importância, nomeadamente no que diz respeito à transição para dietas sustentáveis (plant-based e origem local), consumo excessivo nos setores alimentar, da moda e da construção que também dependem das condições da AFOLU, bem como da estabilidade socioeconómica dos agricultores e empresas que dependem destas atividades.
A falta de governança e investimento financeiro pode causar uma transição desequilibrada, levando ao aumento de populações subnutridas, à migração em massa e à redução da resiliência face a catástrofes naturais. Dos 200$/ano a 400$/ano necessários para financiar compensações de carbono neste setor, apenas 0,7$/ano foram investidos, representando apenas 2,5% do financiamento de mitigação climática, o que é desproporcional ao potencial de mitigação associado a estes ecossistemas.
Relativamente à mitigação das alterações climáticas, a agricultura enfrenta ainda menos investimento do que a silvicultura e as maiores reduções são tipicamente provocadas por políticas e regulamentos cujo foco principal não está relacionado com o clima (em vez disso, podem provir de ações de poupança de mão-de-obra, custos de mercado ou gestão da qualidade da água relacionados com a saúde humana).
As políticas futuras podem incluir subsídios e legislação relativos ao planeamento e controlo de nutrientes durante a produção de alimentos e valorização financeira de serviços ecossistémicos (definidos como "benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas", nomeadamente apoio, aprovisionamento, regulação e cultura), o que significaria que os produtores seriam pagos não só pelos seus produtos, mas também pelos seus serviços ambientais.
O Food4Sustainability reconhece esse potencial, razão pela qual estamos a chamar os produtores e empresas relacionadas a unir forças com os reguladores e consumidores através da educação, digitalização e esquemas de financiamento inovadores, aumentando assim a resiliência dos produtores, não só em relação às alterações climáticas, mas também em relação a futuras medidas legislativas.
A eficiência e adaptabilidade alcançadas com os nossos programas-piloto e parceiros determinarão certamente a escalabilidade da mitigação das alterações climáticas dentro do sector AFOLU. Se quiser saber o que estamos e como estamos a fazer isto, consulte os nossos projetos e conheça os webinars que estamos a dinamizar sobre este e outros temas relacionados com a nossa agenda estratégica.
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