A bolota e a sustentabilidade: impacto ambiental e práticas agrícolas regenerativas

A bolota, fruto das árvores autóctones portuguesas como a azinheira e o sobreiro, foi durante séculos um alimento fundamental na dieta mediterrânica e na alimentação animal (PINTO-CORREIA, 2013). Hoje, volta a ser valorizada pelo seu potencial nutritivo e pelo papel que pode desempenhar num modelo agrícola ecológico e regenerativo (SERRANO, 2018). Rica em fibras, antioxidantes e hidratos de carbono complexos, a bolota representa uma alternativa sustentável a culturas intensivas, exigindo poucos recursos hídricos e não recorrendo a fertilizantes químicos (SILVA et al., 2020). 

Os montados portugueses, onde predominam estas árvores, são considerados hotspots de biodiversidade e desempenham um papel crítico na captura de carbono e na prevenção da desertificação (ICNF, 2021). Estes sistemas agro-florestais combinam produção agrícola com conservação ambiental, promovendo o equilíbrio entre economia rural e resiliência ecológica (PINTO-CORREIA et al., 2019). 

A recolha e transformação da bolota em produtos como farinha, café de bolota ou snacks sustentáveis está associada a práticas agrícolas regenerativas. Estas incluem o pastoreio controlado, a manutenção da cobertura do solo e a regeneração natural das árvores, técnicas que melhoram a fertilidade do solo e aumentam a retenção de água (SERRANO, 2018). 

Ao reintroduzir a bolota na alimentação e nos mercados locais, Portugal recupera uma tradição ancestral com elevado valor ambiental e económico, promovendo a autonomia alimentar e a sustentabilidade dos territórios rurais (SILVA et al., 2020). 

Bibliografia 

ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Relatório do Estado do Montado em Portugal. Lisboa, 2021. 

Pinto-Correia, T.. O Montado: Património, Paisagem e Sustentabilidade. Universidade de Évora, 2013. 

Pinto-Correia, T.; Godinho, S.. Gestão do Montado e Serviços de Ecossistema. Revista de Ciências Agrárias, 42(2), 45-58, 2019. 

Serrano, A.. Valorização Alimentar da Bolota na Dieta Mediterrânica. Universidade do Algarve, 2018. 

Silva, M.; Correia, R.. A bolota como recurso agro-alimentar sustentável em Portugal. Revista Agroecologia Hoje, 5(1), 22-30, 2020.